ARIE FELLOWSHIP Programa de Intercâmbio Científico da SBHCI
- SBHCI

- 10 de abr. de 2012
- 4 min de leitura
Acesse aqui o edital:
Veja aqui carta do Dr. Kevin Croce do Brigham and Women’s Hospital
sobre o programa Arie Fellowship.

O Programa Arie Fellowship busca contribuir para a formação dos cardiologistas intervencionistas brasileiros, com o objetivo de qualificar os jovens especialistas que se interessam pela pesquisa em cardiologia intervencionista. A ideia é que o Brasil possa contar com um número cada vez maior de profissionais formados em centros cardiológicos de excelência e comprometidos com a melhoria do perfil acadêmico dos cardiologistas intervencionistas brasileiros, hoje muito ligado às atividades assistenciais.
A SBCHI, com base nas suas atribuições estatutárias, com esse propósito, resolveu desenvolver o Programa de Intercâmbio Científico com o conceituado Brigham and Women’s Hospital (BWH), vinculado à Harvard Medical School (Boston, MA). Por meio das ações societárias, estabelecemos uma parceria com a prestigiosa instituição americana, firmando-se o compromisso de aceitação de um cardiologista intervencionista brasileiro, selecionado em um concurso público, sob a égide dos organizadores do Fellowship, para realizar um estágio com duração de dois anos no citado hospital, sob a orientação acadêmica de um preceptor daquela instituição americana.
O cardiologista intervencionista escolhido receberá uma bolsa, suportada pela SBHCI, que custeará suas despesas operacionais durante os dois anos de duração do período do estágio. As normas para realização do concurso constarão de edital próprio, divulgado com a devida tempestividade, e a seleção ocorrerá durante o Congresso Brasileiro de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista em Salvador (BA), em junho de 2012.
A SBHCI, ao instituir esse importante Programa de Intercâmbio Científico com o Brigham and Women’s Hospital (Harvard Medical School), decidiu dar-lhe o nome de Arie Fellowship, como forma de reconhecer os esforços do saudoso Dr. Siguemituzo Arie em prol da cardiologia intervencionista brasileira. Menino pobre, filho de imigrantes japoneses, Dr. Arie superou todas as adversidades para consolidar uma das mais brilhantes carreiras médicas deste país, timbrada, principalmente, pela vontade de servir indistintamente. Fazia da arte do cateterismo cardíaco a sua grande paixão.
Dr. Arie, como era conhecido por todos, era portador de habilidade técnica impressionante, com sua admirável capacidade de trabalho e persistência, legado da cultura do seus antepassados. Fundou uma das maiores escolas de cardiologistas intervencionistas do Brasil que até hoje guarda como marca registrada o cuidado e a atenção ao paciente.
Formado na Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em Sorocaba (SP), no ano 1964, Dr. Arie optou pela cardiologia, iniciando sua especialização em hemodinâmica na Cleveland Clinic (Ohio, EUA), com o Dr. Mason Sones, em 1967. No Brasil realizou sua primeira cinecoronariografia no ano seguinte, dando início a uma série que ultrapassou os 200.000 exames durante mais de 30 anos de carreira.
No Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo, junto com o memorável Professor Euriclides Jesus Zerbini, ajudou a formar um dos maiores serviços de hemodinâmica e cirurgia cardíaca do mundo, reconhecido pela qualidade e grandeza. No Instituto do Coração do Hospital das Clínicas realizou sua carreira acadêmica, obtendo os títulos de mestre e doutor em Cardiologia, e chefiou durante muitos anos o Laboratório de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, serviço este de alto prestígio científico.
Nesses centros seu amor pela especialidade, bem como o modo extremamente humano de tratamento aos pacientes, foram transmitidos de uma forma marcante para médicos-residentes de praticamente todos os estados brasileiros e países latino-americanos. Isso possibilitou excelente formação técnico-científica e contribuiu decisivamente para o
reconhecimento da cardiologia intervencionista brasileira como uma das mais desenvolvidas em todo o mundo.
Participou de forma destacada em vários congressos nacionais e internacionais, com mais de 400 trabalhos apresentados, compartilhando sua enorme experiência, credibilidade
e apurada técnica, que transmitia sempre no seu jeito simples e muito carismático.
Na área intervencionista também esteve presente o seu pioneirismo, pois no início dos anos 80, após sua participação no primeiro curso de angioplastia coronária realizado
pelo Dr. Andreas Gruentzig, na Emory University (Atlanta, GA) sua atuação foi da mais alta importância para impulsionar o método no Brasil, tendo realizado mais de 15.000 procedimentos intervencionistas.
No campo associativo Dr. Arie também teve atuação marcante. Por duas oportunidades dirigiu o antigo Departamento de Hemodinâmica e Angiocardiografia da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), hoje Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI). Sua gestão foi marcada por importantes conquistas para os hemodinamicistas, como éramos reconhecidos à época, destacando-se a inclusão de diversos procedimentos da especialidade na antiga tabela da AMB e a luta pela primazia dos cardiologistas na realização dos procedimentos de hemodinâmica. Após o término do seu mandato, continuou a influir decisivamente nos destinos da especialidade.
Em 1997, após sua aposentadoria, a convite do governo cubano, com espírito puramente filantrópico, residiu um ano em Havana para estruturação e desenvolvimento da cardiologia intervencionista no Hospital CIMEQ, o que fez com dedicação e desprendimento.
Recebeu inúmeras homenagens e honrarias, dentre as quais se destacam a Ordem do Mérito Militar em 1981 e a Ordem de Rio Branco em 1989, concedidas pelos presidentes da República João Batista Figueiredo e José Sarney, respectivamente.
No dia 1 de setembro de 2000, com grande pesar, fomos precocemente tolhidos do convívio agradável que tínhamos com nosso mestre e amigo. A lacuna deixada pela sua ausência jamais será preenchida, mas as recordações das suas lições e a força do seu exemplo sempre servirão como fonte perene a atenuar nossa saudade.
Ao denominarmos Siguemituzo Arie esta parceria entre a SBHCI e o Brigham and Women’s Hospital não estamos apenas homenageando o grande mestre eincansável batalhador das causas da cardiologia intervencionista. Na verdade, estamos invocando o seu espírito e o seus ensinamentos, a inspirar as mentes daqueles que, como ele, acreditam no pioneirismo, na ciência, na força do trabalho e na dignidade do exercício da medicina, atributos que edificam o caráter dos grandes homens e que serão eternos e, com certeza, sempre haverão de encontrar seguidores.




Comentários