Modificação eletrocirúrgica dos folhetos para prevenir obstrução coronariana durante TAVR em válvulas nativas e biopróteses degeneradas: resultados do estudo TELLTALE
- SBHCI

- 29 de out.
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Título em inglês: Electrosurgical Leaflet Modification to Prevent Coronary Obstruction During Transcatheter Aortic Valve Replacement in Failing Native and Bioprosthetic Valves
Autor: Dr. Toby Rogers
Co-autores: Khan JM, Laham R, Babaliaros VC, Greenbaum AB, Satler LF, Latib A, Rier JD, Harvey JE, Oldemeyer JB, McCabe JM, Depta JP, Foerst JR, Daniels DV, Petrossian GA, Robinson NB, Chung WB, Byku I, Scotti A, Strote JA, Schelegle AR, Halaby RN, Bruce CG, Tian X, Stine AM, Lederman RJ; the TELLTALE Investigators.
Revisor: Dr. Thiago Marinho Florentino
Referência: JACC Cardiovasc Interv. 2025;18(19):2355–2368. DOI: 10.1016/j.jcin.2025.07.032
Fundamentos
Durante o implante transcateter de válvula aórtica (TAVR), a obstrução coronariana é uma complicação grave, especialmente em pacientes com anatomia de alto risco ou em reintervenções sobre biopróteses. A técnica BASILICA (Bioprosthetic or Native Aortic Scallop Intentional Laceration to Prevent Iatrogenic Coronary Artery Obstruction) demonstrou prevenir essa complicação, porém era realizada com materiais off-label. O TELLTALE (Transmural Electrosurgery LeafLet Traversal And Laceration Equipment) é o primeiro sistema dedicado para modificação eletrocirúrgica de folhetos aórticos durante TAVR, desenvolvido para simplificar e padronizar o procedimento.
Objetivos
Avaliar a segurança e eficácia do sistema TELLTALE na prevenção de obstrução coronariana em pacientes submetidos a TAVR por estenose aórtica nativa ou falência de bioprótese com alto risco anatômico, determinado por tomografia computadorizada.
Métodos
Estudo prospectivo, multicêntrico, aberto, de braço único, conduzido em 11 centros nos Estados Unidos (TELLTALE Trial, NCT05666713). Foram incluídos 90 pacientes (idade mediana 79 anos; 66% mulheres) de alto ou proibitivo risco cirúrgico submetidos a TAVR por estenose aórtica nativa (n=30) ou falência de bioprótese (n=60). Critérios anatômicos de alto risco: altura coronariana média de 8,2 mm, distância válvula–coronária 3,4 mm e válvula–junção sinotubular 1,2 mm. Endpoints primários: (1) eficácia – sucesso técnico do procedimento (traversal e laceration com recuperação do sistema); (2) segurança – ausência de mortalidade, AVC, obstrução coronariana, cirurgia emergencial ou complicações relacionadas ao BASILICA/TELLTALE durante a internação. Seguimento até 90 dias, com avaliação clínica, hemodinâmica e de qualidade de vida (KCCQ).
Resultados
Sucesso técnico: 100% (IC95% 95–100%). Segurança intra-hospitalar: 96% (IC95% 88–99%). Mortalidade: 0%. AVC: 3 casos (1 incapacitante, 2 não incapacitantes). Obstrução coronariana: 1 caso (1,1%), por desalinhamento comissural, tratado com stent ortotópico. Marcapasso novo: 6%. Melhora funcional: KCCQ aumentou de 62 para 84 (+22 pontos; p<0,001); melhora significativa de classe funcional NYHA. Ausência de obstrução coronariana tardia aos 90 dias. A modificação dos folhetos foi realizada com 1 tentativa mediana por paciente, sem casos de avulsão ou complicações estruturais. O uso de proteção cerebral foi opcional, empregado em 86% dos casos.
Conclusões
A modificação eletrocirúrgica dos folhetos com o sistema TELLTALE mostrou-se viável, segura e eficaz para prevenir obstrução coronariana em pacientes de alto risco submetidos a TAVR por válvula nativa ou biopróteses degeneradas. A técnica apresentou 100% de sucesso técnico e 0% de mortalidade, com melhora funcional significativa e baixo índice de eventos adversos. O TELLTALE representa um avanço em relação à BASILICA off-label, por simplificar o procedimento e aumentar sua reprodutibilidade.
Opinião do editor
O estudo TELLTALE representa um marco importante na evolução das estratégias de proteção coronariana durante TAVR, ao introduzir o primeiro sistema dedicado de modificação eletrocirúrgica dos folhetos. Com excelentes resultados de segurança e eficácia, o dispositivo pode viabilizar a ampliação do uso da técnica BASILICA para centros com menor experiência, especialmente diante do crescimento esperado de reintervenções sobre biopróteses (“redo-TAVR”). Apesar de se tratar de um estudo de braço único, seus achados sustentam que o TELLTALE simplifica e padroniza um procedimento previamente restrito a poucos centros altamente especializados. No contexto brasileiro, onde o risco de obstrução coronariana ainda limita re-TAVR em biopróteses cirúrgicas, essa tecnologia poderá, futuramente, ampliar as opções seguras de tratamento percutâneo.


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